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POLÍCIA CIVIL PRENDE DUAS PESSOAS APONTADAS COM MANDANTES DE ATAQUES NO SUL DE MINAS
06junho / 2018
No terceiro dia de ofensivas incendiárias, polícia chega a dupla tida como responsável por comandar executores de crimes no Sul de Minas. Expectativa é de que prisões levem a líderes e ao motivo das depredações. Estado confirma relação com facção criminosa
No caminho da investigação, o próximo passo é subir mais um degrau e chegar até lideranças que informem os reais motivos dos ataques. Até agora, com o vandalismo se espalhando por 26 cidades, não há um posicionamento oficial do comando da segurança sobre as causas da violência, embora ontem o governador Fernando Pimentel tenha confirmado que as investidas são obra de facções criminosas. Gerais: Onda de vandalismo em Minas chega ao quarto dia e já alcança mais de 30 cidades
A principal suspeita até o momento para a onda de depredação é a pressão exercida sobre presos do sistema carcerário de Minas, muitos ligados a uma facção criminosa paulista com atuação em todo o país. Essa situação se repetiria no complexo prisional de Alcaçuz, em Nova Floresta, no Rio Grande do Norte, conforme bilhete deixado em um dos ataques de Itajubá, no Sul de Minas. Ataques criminosos também ocorrem no estado do Nordeste, que registrou no sábado a morte de um PM, em Natal. Dois suspeitos do crime que tentaram fugir foram mortos por policiais e no domingo um ônibus foi incendiado na capital potiguar, o que motivou recolhimento dos coletivos. Os ataques simultâneos em Minas e no Nordeste foram detectados também em São Paulo e em pelo menos mais dois estados. Essa é a primeira vez que uma facção criminosa ordena ataques simultâneos em mais de um estado, segundo uma fonte ligada à investigação do grupo em São Paulo.
USO DE MENORES O delegado Renato Gavião, que chefia a Delegacia Regional de Pouso Alegre, diz que os dois presos na cidade são integrantes de uma facção criminosa, mas que negam participação nos crimes. Em conversas informais, os suspeitos revelaram que a concentração de ataques no Sul de Minas se explica pela maior capilaridade da organização nessa região, limítrofe com São Paulo. Os detidos são uma mulher de 39 anos e um homem de 20. De acordo com o policial, a investigação tem apontado que os mandantes vêm procurando adolescentes para cometer os crimes, com o objetivo de escapar de punições mais pesadas.
Entre a noite de segunda-feira e a madrugada de ontem, os ataques voltaram a aterrorizar o Sul de Minas, com incursões de criminosos em Alfenas, Alterosa, Machado, Passos, Três Pontas e Varginha. Nessa última, uma viatura do sistema prisional foi incendiada dentro de uma oficina mecânica. Em Passos, um carro a serviço da Cemig foi completamente destruído quando era usado para restabelecer a energia cortada justamente por um incêndio em ônibus.
Outra região limítrofe com o estado vizinho de São Paulo é o Triângulo Mineiro, que ontem também voltou a registrar ônibus incendiados. Em Uberaba, bandidos novamente colocaram fogo em coletivos, tanto na noite de segunda quanto na manhã de ontem. Um dos ataques, no Bairro Isabel do Nascimento, ocorreu enquanto integrantes das cúpulas das polícias Civil e Militar na cidade davam entrevista coletiva à imprensa sobre a onda de criminalidade. O coronel Lupércio Peres, comandante da 5ª Região da PM, disse que a corporação está usando estratégia de ocupar os coletivos com militares à paisana para tentar aumentar as prisões. “Já fizemos a prisão de 33 pessoas na região. (Os presos) falam com relação à opressão do estado, mas não definem com detalhes o que seria isso, ou onde seria. Os setores de inteligência de todas as forças estão buscando esclarecer esses pontos”, diz ele.
Estado quer transferir presos
Presidiários de outros estados encarcerados em penitenciárias mineiras, integrantes de organizações criminosas, podem ser transferidos para o sistema federal. A tentativa de remoção faz parte do conjunto de ações adotadas pelas forças de segurança em Minas para tentar pôr fim aos ataques em série promovidos no estado desde domingo. O governador Fernando Pimentel confirmou ontem que as investidas disseminadas por 26 municípios e concentradas nas regiões do Triângulo e do Sul de Minas são obra de facções. A expectativa é de que informações coletadas com os suspeitos que foram presos e apreendidos nos últimos dias – 47, de acordo com o comando-geral da Polícia Militar – ajudem a inteligências das polícias a chegar aos líderes.
“Estamos pagando o preço de o sistema prisional ser mais rigoroso do que no restante do país. Não vamos transigir com nossa política carcerária, que cumpre integralmente a Lei de Execuções Penais”, afirmou Pimentel, durante coletiva de imprensa. O governador se manifestou após reunião ontem à tarde com comandantes das forças de segurança do estado, para tratar dos ataques incendiários.
A possibilidade de transferência de detentos será avaliada junto ao governo federal, de acordo com o secretário de estado de Segurança Pública, Sérgio Menezes. A motivação dos ataques ainda está sendo investigada, mas há indícios, segundo o secretário, de que uma das questões seja a existência de bloqueador de celulares em uma penitenciária de Patrocínio (Alto Paranaíba). Ele disse ainda que há registro de atuação de duas facções em Minas. Menezes acrescentou que está sendo estudado se há relação das ocorrências em Minas com ataques no estado nordestino do Rio Grande do Norte.
A investigação está a cargo das polícias Civil e Militar e têm o apoio da Polícia Federal, mas não foram dados detalhes dos trabalhos, sob argumento de preservar o sigilo das apurações. Ontem, o policiamento foi reforçado, principalmente, em Uberaba (no Triângulo). De acordo com o governador, todo o efetivo da PM e da Polícia Civil está empenhado, tendo havido remanejamento de pessoal para garantir o policiamento nas áreas mais afetadas, onde militares à paisana passaram a viajar dentro de ônibus.
O comandante-geral da PM, coronel Helbert Figueiró, informou que o monitoramento está sendo feito caso a caso. “Houve um incremento no policiamento ostensivo, para tentar estancar esse processo. Não deu o resultado pretendido. De ontem (anteontem) para hoje (ontem), adotamos novas estratégias táticas de atuação, que envolvem policiamento velado, que é com PM descaracterizado, e com isso conseguimos provocar um certo freio no número de eventos ocorridos no estado”, disse.
“A questão essencial para estancar esse processo em Minas Gerais é a construção de uma inteligência eficiente, com coleta de dados de todas as pessoas presas, para que a gente consiga chegar à célula dessas organizações que estão motivando e determinando esses eventos em nosso estado. É preciso que a inteligência consolide essas informações, para que cheguemos a um posicionamento mais concreto e, a partir dele, possamos construir uma resposta eficiente”, avaliou.