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POLÍCIA APURA SUPOSTA FRAUDE EM TESTAMENTO DEIXADO POR APOSENTADO MORTO EM JUIZ DE FORA
30julho / 2018
Cuidador do aposentado e jornalista, amiga dele, são investigados
As investigações da Polícia Civil de Juiz de Fora sobre as circunstâncias da morte e de um possível caso de estelionato contra o advogado aposentado Simeão Cruz, que tinha 80 anos, continuam e apontam contradições no relato do cuidador dele, Carlos César Viana, e da jornalista, Denise Zaghetto, que são investigados. Ambos não quiseram dar entrevista. A reportagem conversou com os advogados deles (confira mais abaixo o posicionamento das defesas).
De acordo com a investigação, o cuidador Carlos César Viana não teria informado à família sobre a morte de Simeão e, pouco depois, ele e uma jornalista da cidade, Denise Zaghetto, apareceram como beneficiados por um testamento do idoso.
O advogado aposentado tinha um patrimônio estimado em R$ 6 milhões, em aplicações financeiras e nove imóveis. Segundo amigos e parentes, todos foram surpreendidos com o testamento que o idoso deixou beneficiando o cuidador e uma amiga dele, a jornalista Denise. A família decidiu então procurar a polícia.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Eurico da Cunha Neto, o testamento foi feito no computador da jornalista. Ela e o cuidador chamaram um médico para atestar a lucidez do aposentado. Para a polícia, a ideia era mostrar que Simeão Cruz estava em condições de assinar o documento.
"O testamento foi assinado teoricamente no dia 8 de maio e ele falece dia 13 de maio. Então ele já estava com a saúde muito debilitada", disse o delegado. "Eu tenho a plena convicção de que foi um golpe até porque os dois beneficiários entram em muita contradição. O testamento ocorreu de forma estranha, de que o idoso não tinha noção do que estava assinando", completou o delegado.
No celular de Denise, a polícia encontrou uma mensagem trocada com uma advogada. Denise comemorava. "O médico deu o atestado!!! Lúcido!!!!!! E o testamento particular assinado!!!".
O testamento foi assinado por três testemunhas. Mas alguns áudios enviados por Denise mostram que ela parecia não estar muito confiante. "Eu estou assustada. A minha testemunha recebeu uma intimação ontem pra ir na delegacia", disse Denise em um dos trechos. "Ela só assinou. Se eu soubesse que ela iria lá eu teria instruído a dizer que estava", disse a jornalista em outro trecho.
Na delegacia, as três testemunhas confessaram que assinaram o documento sem a presença de Simeão. "Ele pode se tornar um testamento inválido", disse Murilo Sechieri, professor de Direito Civil com Especialização na área de Família e Sucessão.
De acordo com o delegado Eurico Cunha, o andamento da apuração já aponta indicamento por pelo menos um crime aos investigados. "Existe prova mais do que suficiente, mais que robusta pra indiciá-los pelo menos no crime de estelionato", afirmou.
Ainda segue em apuração as circunstâncias da morte do advogado aposentado. De acordo com o delegado, o corpo já foi exumado e o material colhido será analisado. "Para que nós possamos verificar se houve ou não algum crime mais grave. Se isso for comprovado, aí nós teríamos outros elementos pra poder pedir a prisão", explicou Eurico Cunha Neto.
Família surpreendida com notícia da morte
Simeão Cruz tinha 80 anos e morava sozinho. Os móveis e a decoração antiga do apartamento eram do tempo em que ele vivia com a mãe. Não casou, nem teve filhos. Ele tinha 19 sobrinhos. Morreu em casa no dia 13 de maio. Um médico atestou a morte. Na certidão de óbito constam as causas: insuficiência cardíaca e hipertensão arterial. Nenhum parente foi avisado.
"Os vizinhos falaram que ele tinha morrido e tinha sido enterrado. Eles falaram que tinha sido 7h30, 7h a morte dele e 13h já tinha enterrado. Falaram que tinha três pessoas no velório", contou a sobrinha de Simeão, a empresária Maria Verônica Bressan.
Ao questionar o cuidador de Simeão, o sobrinho Marcelo Cruz destacou que não teve resposta satisfatória. "Eu liguei para o cuidador, perguntando por que ele não comunicou a família. Ele só respondeu que cumpriu a missão dele e desligou o telefone", relatou.
O cuidador de idosos Carlos César trabalhava para Simeão Cruz e tinha a confiança da família. Ele alegou que o aposentado pedia para que os sobrinhos não fossem avisados de sua morte. "Eu fiquei indignada. Porque isso nunca foi da vontade dele", garantiu Maria Verônica Bressan.
Esta versão também é contestada por Marcelo Cruz, que alegou ter visto o tio em 1º de maio. "Nós tínhamos uma relação familiar muito intensa. Todos os domingos nós nos reuníamos na casa dele, tomávamos uma cerveja, botávamos o papo em dia", ressaltou.
Para conseguir a certidão de óbito no cartório, o cuidador contou outra história, segundo a oficial de registro Mariana Castro. "Ele alegou que essa pessoa não tinha nenhum parente próximo que ele conhecesse".
Na casa do aposentado, os sobrinhos encontraram a fatura do cartão de crédito de Simeão Cruz indicando que o caixão foi pago com o cartão do aposentado, em uma despesa assumida no dia morte dele, dividida em seis parcelas de R$ 366.
Defesas de cuidador e jornalista se posicionam
Ulisses Sanches da Gama, que defende Denise Zaghetto, disse que ela e Simeão eram amigos. "Ele sempre falava que tinha o desejo de deixar os bens dele pra ela e ele a tinha como uma filha", explicou.
O advogado afirmou que Denise fez o testamento a pedido do cuidador. "Ela não queria figurar no testamento. A ideia do cuidador foi que ela entrasse".
"A princípio, pelas informações que nós recebemos, quem ia ser o único beneficiário era o cuidador. E o cuidador a convenceu, 'você está sempre aqui, ele te tem como uma filha', e conversaram com ele e convenceram que ela também entrasse no testamento", contou o advogado de Denise Zaghetto.
Já a defesa de Carlos César alega que Simeão Cruz queria beneficiar o cuidador. "O Simeão tinha a intenção de deixar alguma coisa para o César", disse o advogado Giovanni Malta.
"A jornalista leu [o testamento] para o Simeão", explicou Malta ao ser perguntando se o Carlos disse que estava no momento que a Denise apresentou o testamento para o Simeão.
Ao ser questionado se nesta leitura a jornalista disse que o testamento determinava a divisão de metade para ela e metade para o Carlos, o advogado do cuidador ressaltou. "Não, a jornalista se esquivou nesse momento. Esquivou o nome dela", comentou Giovanni Malta.